domingo, 27 de junho de 2010

ÉTICA E RESPONSABILIDADE SOCIAL

ÉTICA E RESPONSABILIDADE SOCIAL

1.ÉTICA: DE QUE SE TRATA?

A ética é a disciplina ou campo do conhecimento que trata da definição e avaliação do comportamento de pessoas e organizações. A ética lida com o que pode ser diferente do que é, da aprovação ou reprovação do comportamento observado em relação ao comportamento ideal. O comportamento ideal é definido por meio de um código de conduta, ou código de ética, implícito ou explícito.

A palavra ética, do grego ethos, tem a mesma base etimológica da palavra moral, do latim mores. Os dois vocabulários significam hábitos e costumes, no sentido de normas de comportamento que se tornaram habituais.

Códigos de ética são conjuntos particulares de normas de conduta. Há o código de ética dos médicos, da propaganda, dos militares, dos políticos, de um partido político, dos jornalistas, de um grupo social, de uma corrente filosófica ou doutrinária (como a ética do capitalismo) ou até mesmo de uma pessoa. Os códigos de ética são explícitos, como o juramento que os médicos fazem, ou implícitos, como a obrigação que sentem os motoristas de avisar, por meio de sinais de luzes, que há fiscalização policial, para os colegas que vêm em sentido contrário.

2. ABRANGÊNCIA DA ÉTICA NA ADMINISTRAÇÃO

De acordo com Stoner, a classificação pode ser feita em quatro categorias:

2.1 NÍVEL SOCIAL DA ÉTICA

No nível da sociedade de forma geral, as questões relacionam-se com a própria presença, o papel e o efeito das organizações na sociedade. Algumas das questões ética envolvidas neste nível:

. É justo os executivos ganharem o equivalente a dezenas de salários dos trabalhadores operacionais?

. Pode-se aceitar a influência das empresas nas decisões governamentais, como das construtoras na preparação do orçamento das obras da União?

2.2 NÍVEL DO STAKLHOLDER (PARTE INTERESSADA)

Partes interessadas são pessoas que estão associadas direta ou indiretamente à organização ou que sofrem alguns de seus efeitos: clientes, fornecedores, distribuidores, funcionários, ex-funcionários e a comunidade, à medida que são afetados pelas decisões da administração. Algumas questões éticas, nesse nível, são:

. Quais são as obrigações da empresa no que tange à necessidade de informar sobre os riscos de seus produtos para o consumidor (álcool, tabaco, por exemplo)?

. Como se devem pautar as relações dos funcionários com os usuários, especialmente no caso dos funcionários públicos, em suas relações com os contribuintes?

2.3 ÉTICA NA ADMINISTRAÇÃO E POLÍTICA INTERNAS

No nível da administração e política internas, a discussão sobre a ética focaliza especialmente as relações da empresa com seus empregados.

. Quais são as obrigações da empresa com seus funcionários?

. Que tipos de compromissos pode exigir de seus funcionários?

Liderança, motivação, planejamento de carreira, movimentação de pessoal e conduta profissional são assuntos que envolvem questões éticas.

2.4 ÉTICA NO NÍVEL INDIVIDUAL

De acordo com Stoner, as questões éticas, no plano individual, dizem respeito à maneira como as pessoas devem tratar-se umas às outras. Por exemplo:

. Quais obrigações e direitos as pessoas têm como seres humanos e trabalhadores?

. Quais as obrigações em relação aos empregadores, funcionários e colegas?

3. CRIAÇÃO DE SISTEMAS DE VALORES

Valores são julgamentos a respeito do que é desejável e oferecem justificativas para as decisões. Por exemplo: se uma jovem tiver que escolher entre a profissão de modelo ou de professora, qual alternativa ela prefere? Por quê? A resposta à pergunta “por quê” dá a dimensão de seus valores. Assim como os indivíduos e as sociedades, as empresas também têm valores.

Os valores formam a base dos códigos de ética. Os valores que orientam o comportamento ético e que permitem classificar os comportamentos dentro de qualquer escala de desenvolvimento moral foram e continuam sendo propostos por filósofos e diversos tipos de líderes. Essas pessoas manifestam opiniões a respeito de como a sociedade deveria ser, e o fazem de maneira a influenciar as convicções alheias. Outras normas de conduta ética nascem dos usos e costumes, do processo social de julgar comportamentos e considerá-los certos ou errados, e de distinguir o vício da virtude pelos sentimentos de reprovação ou aprovação que inspiram.

4. EVOLUÇÃO ÉTICA

A ideia de que os códigos de conduta evoluem e, portanto, de que há códigos mais evoluídos e mais atrasados faz parte do conceito de ética.

Conceitos como civilização, virtude coletiva, igualdade, respeito à pessoa e direitos humanos estão intimamente ligados à mudança evolutiva dos costumes. O processo de administrar as organizações é influenciado por essa evolução. Ideias como segurança do usuário, proteção do ambiente, proteção da mulher e do menor e direitos iguais no local de trabalho são relativamente recentes.

5. ÉTICA RELATIVA E ABSOLUTA

5.1 ÉTICA RELATIVA

A abordagem da ética relativa reconhece que as circunstâncias influenciam a definição dos valores e do comportamento socialmente aceitável. Será certo ou errado pedir ao restaurante uma nota fiscal em valor superior ao real, para prestar contas à empresa e embolsar a diferença?

Acreditar que esse comportamento é correto, porque tem alguma justificativa lógica, é a perspectiva da ética relativa. A idéia da ética relativa estabelece que é correto avançar os sinais vermelhos de trânsito a altas horas da noite, porque o risco de assalto nos cruzamentos justifica esse comportamento. Até mesmo as autoridades da segurança pública recomendam essa violação da lei. A ética relativa também reconhece que a idéia de certo e errado é uma questão de geografia. Na cultura oriental, a ética diz que as pessoas devem dedicar-se integralmente à empresa, que é uma família à qual a vida do funcionário pertence. Na cultura ocidental, as pessoas entendem que há distinção entre a vida pessoal e a vida profissional.

O tempo também influencia os valores. No início do século XX, eram relativamente comuns as agressões verbais e físicas aos trabalhadores das fábricas no Brasil. Nos primórdios da Revolução Industrial, o trabalho das crianças até a exaustão era normal.

5.2 ÉTICA ABLOSUTA

De acordo com a ideia de ética absoluta, determinados comportamentos são intrinsecamente errados ou certos, seja qual for a situação, e devem sempre ser apresentados e defendidos como tal.

6. RELATIVISMO CULTURAL

Uma das áreas com questões éticas difíceis de resolver envolve as relações entre culturas distintas. De acordo com Hannagan:

À medida que as empresas se internacionalizam, aumenta a probabilidade dos contatos e negociações com pessoas que endossam sistemas éticos completamente distintos. O fato de que há culturas gerenciais distintas, com sistemas de valores distintos, significa que não há soluções simples para os dilemas éticos dos negócios internacionais. Muitas pessoas diriam que a maneira mais simples e prática de lidar com os problemas éticos consiste em adotar o relativismo moral. Ou seja: adotar os valores locais quando se estiver negociando num determinado local. Porém, o relativismo moral pode significar adotar a prática do suborno em países em que essa é a regra.

Contudo, há um problema sério na adoção do relativismo cultural. Se é desejável que os ocidentais adotem as normas que prevalecem em outros países, o mesmo deve aplicar-se na situação inversa. Em outras palavras, os imigrantes deveriam adotar as normas de conduta, vestuário e costumes dos ocidentais. Não haveria espaço para práticas religiosas que não fossem as ocidentais. No entanto, tal restrição violaria os princípios de liberdade, que são inerentes ao indivíduo.

As relações entre organizações de culturas distintas também oferecem problemas práticos e não apenas dilemas morais. Por exemplo, nas exportações para certos países do Oriente Médio, há restrições no teor das transações. A palavra “juro” não pode constar de documentos contratuais, uma vez que juros são considerados crime no mundo islâmico.

7. RESPONSABILIDADE SOCIAL

Muito da discussão sobre a ética na administração tem sua origem na opinião de que as organizações têm responsabilidades sociais – elas têm a obrigação de agir no melhor interesse da sociedade. Portanto, devem pautar sua ação pelo princípio do estágio pós-convencional de desenvolvimento moral. No contexto da responsabilidade social, a ética trata essencialmente das relações entre as pessoas. Se cada um deve tratar os outros como gostaria de ser tratado, o mesmo vale para as organizações. Há duas correntes a esse respeito, cada uma delas com argumentos muito fortes.

7.1 DOUTRINA DA RESPONSABILIDADE SOCIAL

A primeira corrente é a que reconhece a responsabilidade social das organizações de forma geral e das empresas em particular.

O princípio da responsabilidade social baseia-se na premissa de que as organizações são instituições sociais, que existem com autorização da sociedade, utilizam os recursos da sociedade e afetam a qualidade de vida da sociedade.

7.2 DOUTRINA DO INTERESSE DO ACIONISTA

A corrente alternativa da responsabilidade social propõe que as empresas têm obrigações, primordialmente, com seus acionistas. O representante mais conhecido desta doutrina é Milton Friedman, economista da Universidade de Chicago. Ele afirma que a principal responsabilidade das empresas é maximizar o lucro do acionista. De acordo com esse ponto de vista, a ética das decisões de negócios consiste em procurar as alternativas que produzam mais dinheiro, porque essa diretriz promove utilização mais eficiente e eficaz dos recursos individuais, organizacionais, sociais e ambientais.

8. POR QUE A PREOCUPAÇÃO COM ÉTICA E RESPONSABILIDADE SOCIAL?

Se o sistema de valores sempre orientasse as organizações para o benefício dos clientes, funcionários e fornecedores, ou para a proteção do ambiente e dos recursos naturais, não seria necessário estabelecer multas e punições precisamente para forçar a obediência a esses comportamentos. No entanto, a sociedade vê-se obrigada a criar o Código de Defesa do Consumidor, ou a Lei de Proteção dos Mananciais.

8.1 DEFESA DO CONSUMIDOR

O Código de Defesa do Consumidor nasceu como resposta da sociedade aos danos, voluntários ou involuntários, provocados pelos fornecedores de produtos e serviços. Mau atendimento, produtos inseguros para crianças e adultos, descumprimento de promessas e falha ou atraso na entrega de produtos são problemas que não contavam com legislação específica para a defesa do consumidor. O Código surgiu para evitar esses e inúmeros outro problemas, desde a informação falsa na propaganda até a falta de peças para os automóveis que saem de linha.

A desobediência ao Código, como a qualquer outro tipo de legislação, pode acarretar sérios transtornos para a empresa. Desde os custos de não qualidade até a possibilidade de ações legais, passando pela perda de clientes e projeção de má imagem, são inúmeros os motivos para que as empresas prestem atenção ao código.

8.2 DEFESA DO AMBIENTE

A proteção do ambiente é motivada pelas mesmas razões da defesa do consumidor. Há inúmeros dispositivos legais que estabelecem regras para o comportamento em relação ao ambiente, bem como punições em caso de desrespeito.

Da mesma forma como aconteceu com a defesa do consumidor, a proteção do ambiente passou para a esfera legal. Além disso, não há empresa preocupada com sua imagem que queira parecer de alguma forma irresponsável nesse aspecto.

9. CÓDIGOS DE ÉTICA

A visão convencional de que a missão das empresas é exclusivamente obter lucro vem sendo substituída pela idéia de cidadania empresarial – o que significa que as empresas devem ter papel ativo na busca de soluções para problemas da sociedade.

Para orientar suas ações sociais e definir suas políticas de responsabilidade social, muitas empresas implantaram códigos de ética. Códigos de ética são conjuntos de normas de conduta que procuram oferecer diretrizes para decisões e estabelecer a diferença entre certo e errado.

9.1 CREDO DA JOHNSON AND JOHNSON

· Acreditamos que nossa primeira responsabilidade seja com os médicos, enfermeiros e pacientes, com as mães e todos os que usam nossos produtos e serviços.

· Devemos esforçar-nos continuamente para reduzir nossos custos e manter preços razoáveis.

· Os pedidos dos clientes devem ser atendidos prontamente e com exatidão.

· Nossos fornecedores e distribuidores devem poder obter lucro razoável.

· Temos responsabilidade em relação a nossos empregados, os homens e mulheres que trabalham conosco em todo o mundo.

· Eles precisam ter sentido de segurança em seus empregos.

· A remuneração deve ser justa e adequada, e as condições de trabalho devem ser higiênicas, organizadas e seguras.

· Os empregados devem sentir-se à vontade para fazer sugestões e recomendações.

· As oportunidades devem ser iguais para todos, no que diz respeito ao emprego, desenvolvimento e avanço profissional.

· Nossa responsabilidade final é para com nossos acionistas.

9.2 NORMAS DE CONDUTA DO BANCO DO BRASIL

1. A conduta do empregado, no âmbito da empresa ou fora dela, rege-se pelos seguintes valores fundamentais:

a) Probidade.

b) Lealdade.

c) Urbanidade.

d) Observância das normas legais e regulamentares.

e) Disciplina.

f) Dedicação.

g) Zelo.

h) Respeito aos costumes da comunidade.

2. É vedado ao empregado:

a) Desempenhar atividades extrabanco que constituam prejuízo ou concorrência aos interesses da empresa.

b) Obter empréstimo pecuniário junto ao cliente.

c) Prevalecer-se da condição de empregado para obter vantagens para si ou para outrem.

d) Sofrer protesto ou deixar de pagar dívidas legalmente exigíveis, inclusive na qualidade de coobrigado, por fiança, aval ou endosso.

e) Manter, sob chefia imediata, em cargo ou função de confiança, cônjugue, companheiro ou parente até segundo grau.

f) Usar o nome do banco ou suas marcas e símbolos privativos em publicidade, ou incluí-los sem autorização, na denominação de qualquer entidade.

g) Causar saldo devedor em conta de depósitos, excesso em conta de Cheque-Ouro ou ter cheque devolvido por insuficiência de fundos.

h) Divulgar, por meio, crítica ao banco, ao conselho diretor, a superiores hierárquicos ou a colegas.

i) Impedir, dificultar ou tumultuar o funcionamento ou a prestação de serviços de qualquer dependência do banco.

k) Recorrer à mediação de outrem em favor de suas pretensões no banco.

fonte: MAXIMIANO, A. C. A. Teoria geral da Administração - Da Revolução Urbana à Revolução Digital. 4ª ed. São Paulo: Atlas, 2004.

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